A música sempre foi um campo de disputas simbólicas. Quem define o que é “autêntico”, “relevante” ou “culturalmente valioso”? Por dA música sempre foi um campo de disputas simbólicas. Quem define o que é “autêntico”, “relevante” ou “culturalmente valioso”? Por décadas, os estudos sobre gêneros musicais orbitaram em torno de um eixo dominante: o rockcentrismo, modelo teórico que prioriza o rock como paradigma para analisar todas as outras formas de expressão musical. Mas e se essa lente estiver desfocando realidades mais complexas e plurais?
O Legado de Simon Frith e o Domínio do Rockcentrismo
No final dos anos 1990, o livro Performing Rites: On the Value of Popular Music, do britânico Simon Frith, tornou-se uma referência global para entender como os gêneros musicais são construídos socialmente. Frith argumentava que as categorizações não são neutras — elas carregam juízos de valor, hierarquias e até preconceitos. No Brasil, sua influência moldou pesquisas que, muitas vezes, aplicaram critérios derivados do rock (como “autenticidade” e “originalidade”) para analisar gêneros locais, ignorando contextos culturais específicos.
O problema? Esse modelo tende a enquadrar expressões musicais periféricas em moldes eurocêntricos, invisibilizando dinâmicas de raça, classe e território. Enquanto o rock era celebrado como “universal”, gêneros como o samba, o forró ou o funk eram lidos como “exóticos” ou “menores”.
Brega-Funk e Funk: Gêneros que Desafiam a Teoria
Nos últimos anos, porém, uma nova geração de pesquisadores tem revirado esse tabuleiro. Brega-funk e funk emergiram não apenas como fenômenos culturais, mas como ferramentas teóricas que expõem as limitações do rockcentrismo.
Por quê?
- Geopolítica da Música: Enquanto o rock foi associado a uma ideia de “globalização branca”, brega-funk e funk são produtos de periferias urbanas, onde a mixagem de samples, batidas eletrônicas e letras cruas refletem resistência e reinvenção cotidiana.
- Raça e Gênero: Esses gêneros colocam no centro debates sobre corporalidade negra, sexualidade e marginalização — temas que o rockcentrismo frequentemente relegou a notas de rodapé.
- Comunicação e Tecnologia: Plataformas como o YouTube e TikTok transformaram o funk em um fenômeno viral, desafiando noções tradicionais de “autoria” e “valor artístico”.
Por Que Isso Importa?
Quando analisamos brega-funk ou funk pelas lentes do rock, perdemos a essência do que os torna revolucionários. Sua potência está justamente na capacidade de subverter regras:
Estética da Urgência: Letras repetitivas e batidas aceleradas não são “falta de complexidade”, mas um manifesto sobre a vida nas quebradas, onde o tempo é escasso e a criatividade brota na pressão.
Hierarquias em Colapso: Enquanto o rock glorificava o “gênio solitário” (o guitarrista, o compositor), o funk celebra a coletividade — das festas de rua aos rolezinhos.o o rock glorificava o “gênio solitário” (o guitarrista, o compositor), o funk celebra a coletividade — das festas de rua aos rolezinhos.
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